Abha Sinopse: Palestra
Publicado em : 26/07/2017
Autor : Dra. Maria Cecília Aguiar
Durante o IV Encontro Brasileiro de Halitose, o tema da palestra da Dra. Maria Cecília Aguiar foi ‘Como Avaliar a Saliva’. Preparamos uma sinopse para compartilhar algumas informações abordadas. Confira!
A Dra. Maria Cecília Aguiar começou sua aula apresentando uma nova perspectiva sobre a saliva, muitas vezes vista pelo Cirurgião-Dentista como empecilho, algo a ser driblado durante os procedimentos odontológicos. Sugar e conter a saliva é etapa fundamental em restaurações, coroas de porcelana, lentes de contato e até em cirurgias. Além disso, é bastante comum que o Cirurgião-Dentista não estude saliva. Isso faz com que este seja um tema conhecido por poucas pessoas.
Porém, durante sua aula, a palestrante falou sobre a importância e a utilidade desta secreção em várias funções. Explicou que a saliva é responsável pelo conforto em atividades como falar, ao articular as palavras e também ao sentir o gosto dos alimentos, visto que é a saliva quem dissolve as partículas da comida, de forma que elas se tornem perceptíveis pelas papilas gustativas da língua.
A saliva também tem funções relacionadas a saúde bucal, como lubrificar a cavidade oral, de forma a evitar predisposição à aftas e infeções na mucosa. Promove a remineralização do esmalte dentário e também atua nas defesas do organismo. Ela tem imunoglobina e enzimas que agem nesta defesa. Tem ação antifúngica, antibactericida, antivirais, de regeneração, cicatrização.
A professora explicou que a saliva, multifuncional, contribui para deglutição, autolimpeza e diminui a fricção dos tecidos na mucosa bucal, o que aumenta a sensação de conforto. Age também na digestão, a partir de uma enzima chamada amilase salivar, que participa da digestão do amido.
Depois de falar sobre as muitas funções da saliva, a Dra. Maria Cecília Aguiar conceituou a mesma, trazendo desde definições mais populares até conceitos científicos. Falou sobre a composição da saliva, a produção pelas glândulas salivares maiores e menores e explicou sobre a importância de diferenciar a participação das glândulas em cada situação de produção. Em repouso, o predomínio é da glândula submandibular, porém, quando efetuados estímulos mastigatórios, a prevalência de participação passa a ser das parótidas. Entender a atuação das glândulas na produção da saliva é fundamental porque, na realização da sialometria, que são os exames que avaliam a saliva, é possível verificar como está a função de cada glândula.
Depois, foram debatidos os sinais e sintomas da falta de saliva, onde entra a halitose bucal. Na ausência de saliva ou nos casos de fluxo reduzido, a autolimpeza bucal fica prejudicada e os fatores de proteção deficientes. Estas alterações favorecem o aumento da microbiota bucal, que por sua vez, pode decompor proteínas presentes na boca. Ao serem decompostas, desdobram-se em compostos sulfurados voláteis, que são as principais moléculas da halitose bucal.
A autolimpeza prejudicada tem impacto direto nas duas principais causas de halitose bucal. Isso porque, além de influenciar no aumento da contagem de bactérias, ainda amplia a quantidade de nutrientes disponíveis.
A professora alertou que, embora a saliva possa ser facilmente coletada, ainda é pouco observada pelos profissionais de saúde, especialmente os médicos e cirurgiões-dentistas, que raramente avaliam os padrões salivares na rotina clínica.
Mas, afinal, como avaliar a saliva na prática? Com base nos sinais e sintomas citados e no aspecto da saliva, que deve ser incolor, translucida, sem resíduos, com pouca espuma e PH próximo ao neutro. Pode até ter um fio, mas, deve ser pequeno. Explicou que é preciso também avaliar a secreção salivar na glândula em si, se é espontânea, ou se só é liberada com ordenha da glândula.
A professora define a sialometria como um hemograma para a saúde geral, mas, para avaliar a saliva. Neste exame é avaliado tanto a quantidade quanto a quantidade e que, por isso, deveria ser realizada em todos os pacientes. Porém, como isso nem sempre é possível na rotina do profissional, é preconizado que se faça quando o paciente tem uma queixa, ou de excesso ou de falta de saliva. Na presença de algum sinal e sintoma dos citados, inclusive a halitose, ou em casos de aspecto visual da saliva alterado. A avaliação também é indicada quando o fluxo é ausente ou acontece apenas com ordenha, não espontâneo. Pacientes com risco aumentado, com diagnóstico de HIV, hepatite, doenças autoimunes com um risco maior de desenvolver Síndrome de Sjogren. Ou também nos casos em que apresenta alguma condição reumatológica, paciente diabético, que está na menopausa, que toma múltiplos medicamentos. Nestes casos, a sialometria deveria ser m cuidado de rotina, como prevenção.
Para uma avaliação precisa é fundamental padronizar o exame para que ele seja feito sempre sob as mesmas condições, assim como ter valores referenciais para interpretação. A Dra. Maria Cecília falou ainda sobre a interpretação do exame e os materiais próprios para facilitar o trabalho. Diferenciou sialometria não estimulada, que acontece em repouso e mede a saliva basal, aquela que a pessoa apresenta no dia-a-dia. Apresentou técnicas de sialometria com estímulos gustatórios, mastigatórios e farmacológicos, além de demonstrar passo a passo sobre como executar e interpretar cada um dos exames.
Para finalizar, conclui, em conjunto com os participantes, que ter uma boa saliva é fundamental para a homeostase bucal e para a saúde como um todo. Reforçou o fato de que alterações salivares são problemas comuns, e apesar disso a saliva ainda é pouco avaliada.
Avaliar saliva é um método rápido, barato, indolor, não invasivo e que tem uma relevância clínica expressiva. Por isso, deve ser uma prática de rotina do Cirurgião Dentista.